Náutico volta à Série B — e, mais uma vez, no estilo dramático que só o Timbu conhece

Escrito em 13/10/2025
Gustavo Ferreira - Jogo de Hoje

Após três temporadas na Série C, o clube pernambucano reencontra o acesso com um roteiro carregado de emoção e sofrimento até o último segundo



Paulo Sérgio decide acesso do Náutico à Série B — Foto: Marlon Costa/AGIF

Parece que a alegria do torcedor do Náutico nunca vem sozinha. Vem sempre acompanhada de drama, tensão e final apoteótico. É como se o destino insistisse em transformar cada conquista alvirrubra em uma epopeia. Para o torcedor do Timbu, a euforia só é completa quando há antes um teste de resistência — daqueles que fazem o coração bater no compasso dos Aflitos.

E essa relação com o sofrimento não é nova. A história recente do Náutico é repleta de capítulos escritos no limite da emoção. Basta puxar pela memória: o título estadual de 2001, que encerrou o jejum de 11 anos; a virada inesquecível sobre o Santa Cruz no Arruda, em 2004; a Batalha dos Aflitos; e o acesso de 2006, diante do Ituano, que lavou a alma do torcedor.

Mais perto do presente, quem esquece 2019? O jogo com o Paysandu, na Série C, parecia perdido. O Náutico perdia por 2 a 0, até que um pênalti no fim reescreveu a história. Gol, Aflitos em delírio, invasão de campo e o acesso selado em um dos momentos mais marcantes do estádio. Vieram depois o título estadual sobre o Sport — o primeiro em 50 anos — decidido também nos pênaltis, mesmo sem a presença do torcedor, por causa da pandemia.

Justamente por isso, o sábado em que o Náutico enfrentou o Brusque carregava uma energia familiar. A lembrança daquele duelo contra o Paysandu pairava no ar. De novo, o acesso à Série B estava em jogo. Só que, dessa vez, o clube dependia não apenas de si: precisava vencer e torcer pela Ponte Preta contra o Guarani.

O fantasma de 2016, ano em que o Náutico ficou no quase mesmo com os resultados a favor, rondava os Aflitos. A torcida sabia: não vencer o Brusque era impensável. Ainda mais depois das derrotas recentes em casa, que haviam esfriado o caldeirão. A missão era clara: vencer e devolver o orgulho a quem nunca deixou de acreditar.

Durante a semana, o clima no Recife foi de pura tensão. Cada esquina, cada conversa, respirava ansiedade. E o jogo entregou exatamente o que prometia: um roteiro insano. Quando o zagueiro João Maistro marcou contra, aos 29 minutos do segundo tempo, o estádio parou. O silêncio tomou conta. As lembranças ruins voltaram — 2016, 2019, todas as quedas e ressurgimentos.

Mas o futebol adora reviver seus próprios fantasmas — e, às vezes, redimi-los. Assim como naquele confronto com o Paysandu, um pênalti apareceu nos minutos finais. O nigeriano Samuel Otusanya foi derrubado na área, e o árbitro marcou. A explosão foi imediata. E veio de novo quando Paulo Sérgio, com frieza e coragem, converteu.

O destino ainda quis brincar um pouco mais: nos acréscimos, o Brusque chegou a assustar com um possível pênalti, anulado por impedimento confirmado pelo VAR. A partir dali, o alívio virou choro, grito, desabafo. Os Aflitos voltaram a pulsar como nos grandes dias.

Depois de três longos anos na Série C, o Náutico pagou sua dívida com a história — e com a torcida.

Subiu. E, como sempre, foi daquele jeito que só o Náutico sabe fazer.

✦ Fonte – Jogo de Hoje 360°


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